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• 11 jun 2020

Kunumí MC lança clipe que mostra a diferença de viver na natureza e na cidade

Werá Jeguaka Mirim é o nome de Kunumí MC. Com dois discos já lançados, o EP de estreia, My Blood is Red (2017) e o álbum Todo Dia É Dia de Índio (2018), Kunumí MC lança agora o single Xondaro Ka’aguy Reguá (Forest Warrior), que ganhou clipe, dirigido pela dupla da Angry Films, Bruno Silva e Gabe Maruyama. Assistam abaixo:

A música retrata a realidade dos povos indígenas de força e resistência, desde a invasão dos portugueses até o presente momento, sob a visão de um indígena. Kunumí conta que a ideia do clipe foi retratá-lo na aldeia Krukutu, onde vive em Parelheiros (SP) e também na capital, São Paulo: “o vídeo tenta mostrar a diferença que é para o indígena entre viver na aldeia e na cidade. Aqui, na aldeia, o indígena vive melhor, porque esse é o nosso lugar. Não só o nosso lugar, mas deveria ser o lugar de todo mundo, né? A natureza, né?”, diz Kunumí.

Além disso, os diretores Gabe e Bruno, que também dirigiram outro clipe de Kunumí, O Kunumi Chegou, comentam sobre a produção: “o vídeo é sobre um guerreiro dotado de poderes, uma ficção futurista mas também muito atual. No filme, Kunumí se transforma em fogo, universo, folhas… Contos fazem parte da cultura Guarani, e neste conto que criamos, retratamos a nova geração de indígenas que usam a educação, a arte e a tecnologia para defender e proteger seus povos e as suas terras. O filme é uma homenagem a todos os povos indígenas do Brasil e do mundo, e também um manifesto à liberdade criativa que os permite, como seres humanos, tomarem suas decisões individuais como cantar rap, escrever livros, ter uma carreira, transitar por outras culturas e mesmo assim, não deixam de ser indígenas”.

Sobre a letra da música, em guarani, o artista comenta: “a letra é uma letra forte, fui eu que escrevi, mas as palavras não são minhas, né? Junto comigo vem a ancestralidade, o meu povo sofrido, e isso me faz fortalecer e a cantar mais e mais, não desistir. Quando eu canto, não canto sozinho. Quando eu canto, na minha própria língua, junto vem o meu povo do passado, massacrado e escravizado, que sofreu muito e me traz força pra cantar e pra escrever”. Já a produção da música é assinada por Fadel Dabien, que traz samples de violino indígena com referências de trap music e reggaeton unidos ao canto Guarani, uma peça atual que também é o retrato de um novo movimento cultural, o futurismo indígena.

 

Trajetória

Kunumí conta que começou a escrever desde pequeno, aos seis anos viu florescer a vontade de escrita muito influenciado pela mãe, Maria Kerexu, e pelo pai, Olívio Jekupé – que é escritor e já lançou 19 livros de literatura nativa, que vão desde poesia, contos indígenas, romance a textos críticos. Aliás, Kunumí já tem dois livros lançados também – um com o irmão, Tupã Mirin, chamado Contos dos Curumins Guaranis e outro que ele escreveu sozinho, Kunumi Guarani.

O livro de poesias do seu pai, 500 anos de Angústia, foi o que mais impulsionou Kunumí a começar a fazer rap. Inspirado pela poesia que leva o título do livro, ele escreveu uma também e aí “decidi transformar essa poesia numa música e percebi que parecia muito com o rap, porque era uma letra de protesto e tinham muitas rimas. Eu já gostava muito de rap também, então, decidi ser um MC e me apelidei de Kunumí MC”, conta. E completa: “meu rap é diferente por ser indígena e também pela melodia e o ritmo de cantar, que é próprio meu, além disso, canto em guarani”.

Sobre as influências musicais, Kunumí MC aponta outros artistas indígenas, como o grupo Brô MC’s, o rapper Oz Guarani, a rapper Katu Mirim, além do grupo Racionais MC’s e do Criolo, com quem, inclusive, gravou a música Demarcação Já – Terra Ar Mar. Deste encontro com Criolo também gerou o mini doc Meu Sangue É Vermelho, dirigido pela produtora inglesa Needs Must Film.